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sábado, 8 de maio de 2010

65 anos da derrota nazista e Hollywood.

Depois da "Lista de Schindler", Sargento Rock, Capitão América, "Em Busca do Soldado Ryan", fica difícil de imaginar os EUA cheios de dedos em relação à Alemanha nazista mas antes de Pearl Harbour era proibido criticar Hitler, Charles Chaplin que o diga, persona non grata depois de “O Grande Ditador”, ou mesmo denunciar os campos de extermínio. Ben Hecht, escritor e roteirista, lutou pra denunciar o que acontecia e tentar reverter de alguma forma os assassinatos em massa, mas mesmo os donos dos estúdios, judeus em sua maioria, não se envolveram na causa por medo de se indisporem com o “establishment” americano.
Os EUA nunca declararam guerra a Hitler. Declararam guerra ao Japão depois de Pearl Harbour e Hitler, parte do Eixo, em resposta declarou guerra aos EUA.
Anos depois, guerra ganha, parece que os EUA ao entrarem nos campos de extermíno e documentarem o que acontecia foram os grandes libertadores. Foram, mas quando lhes era conveniente.

domingo, 25 de abril de 2010

A Mulher do Dia, George Stevens (1942)

A Mulher do Ano (do título original) é Katharine Hepburn, correspondente internacional de política de um jornal de Chicago. Já Spencer Tracy é o editor de esportes do mesmo jornal. Os dois iniciam uma polêmica cada um em sua coluna diária sobre se o Baseball é algo relevante em relação ao conflito mundial no qual os EUA acabaram de entrar.
"É por isso que lutamos!", protesta Tracy defendendo o esporte. A Mulher do Ano versus o Homem do Cotidiano.
Além da polêmica entre dia a dia e questões seculares, Kate é uma mulher emancipada enquanto Tracy, apesar de não ser nenhum machista, é quadradão.
Depois da polêmica nas letras os dois acabam se casando e... mulher emancipada mais casamento mais anos 40 mais Hollywood só pode dar errado. E dá. Eles não se entendem, não conseguem criar o filho adotado (molequinho refugiado da Grécia ocupada por Hitler), Tracy não aguenta tanta extravagância e dá no pé.
O filme é isso e só. Apesar dos dois atores conseguirem tirar leite de pedra esse leite azedou com o tempo. O roteiro, comprado por Kate depois de sua volta por cima (uma série de fracassos interrompida pelo sucesso e indicação ao Oscar de atriz por Núpcias de Escândalo) devia ser moderno pra ela ter se interessado por ele mas hoje envelheceu. É um retrato desse tipo de mulher e época, no entanto, que como ela foi na frente quebrando os preconceitos culturais e sociais que às vezes o presonagem de Tracy representa.
E pode ser que tenham curtido as piadas fofinhas (roteiro de Michael Kanin e Ring Lardner Jr., o filho do escritor e que iria melhorar a verve e a acidez a ponto de escrever M.A.S.H. muito bem em 69) e não se incomodado com o ritmo lentíssimo de George Stevens (a cada piada sua, Lubitsch teria feito doze).
No final, uma cena deprimente de Kate tentando ser a mulher prendada pra conquistar de volta Tracy preparando uns waffles. Mas parece que os eletrodomésticos foram comprados na loja da cunhada do Monsieur Hulot e tudo dá errado, dos waffles à cena que coroa esse filminho abaixo da média das outras 8 parcerias Hepburn-Tracy que pelo menos serviu apresentá-los e começar o romance fora das telas.
O roteiro previa outro final que chegou até a ser filmado. Kate se interessaria muito mais que Tracy pelo Baseball se tornando uma especialista. O personagem do homem, já apequenado perto daquele mulherão, seria derrotado em sua própria base. Aí já seria demais. O careta de fato Stevens e o nada careta mas pragmático Joseph Mankiewicz, produtor do filme, optaram pelo o final que colocava a mulher em seu devido lugar (pra cabeça convencional da época). O filme deu um passo atrás mas ganhou o Oscar de 42 pelo roteiro.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Como Treinar Seu Dragão e "Lutar a Guerra de Nossos Pais"

Soluço, filho de Viking, não quer matar dragões. Apesar de ser isso o que todos fazem em sua aldeia e o que a princípio é seu sonho.
Soluço não quer matar dragões porque ficou amigo de um deles, o mais terrível e misterioso, aliás, "Fúria Noturna". E não quer matar dragões porque não precisa. Ele sabe domar dragões. Pegou a "manha" deles.
Apesar disso, tem um dragão, o maior de todos, mestre dos demais, que ele não pode domar. Esse ele vai ter que matar com a ajuda dos outros menores que ele já domou.
Eu ainda não tinha percebido nenhuma conexão política com a história até, no final da batalha, Soluço ganhar uma prótese que substitui o pé que perdeu na batalha...
Soluço, "wounded in action", não só teria ganho uma "Purple Heart" mas também ganharia uma medalha por bravura e mérito. Finalmente, topou lutar "a guerra de seus pais" e descobriu as vantagens de lutar essa guerra com a ajuda da inteligência (CIA) e diplomacia (Relações Exteriores). Tentar identificar os países de cultura exótica cooptados representados pelos dragões e o inimigo supremo e final representado pelo dragão-mor pode ser divertido mas é um jogo que tem sido jogado há muito tempo pelos EUA com diferentes peças a cada vez. Cada época teve seus "Fúrias Noturnas" e nem sempre os "Soluços" voltaram pra casa deixando apenas um pé no campo de batalha.

Ilha do Medo e as pistas falsas

(Se ainda não viu "Ilha do Medo" não leia)
Uma pista falsa que me levou `a primeira idéia sobre a história do filme (também falsa) é o retrato dos funcionários, médicos, seguranças de forma distorcida pela câmera e pelos atores. Achei que os malucos eram eles e que tinham tomado a ilha antes da chegada de Di Caprio.
Aliás, esse é o jogo dos "Thrillers", não? Você vai catando as pistas pelo caminho, construindo seu próprio filme que o filme de fato vai destruindo a medida que se constrói.

Ilha do Medo

Um aspecto que me chamou a atenção é que esse é um dos poucos filmes de Scorsese com uma idéia política ou aproximação de um universo mais mundial e menos restrito a um bairro, um gueto, uma cidade. O assustador diálogo de Di Caprio com o oficial no jipe (Ted Levine, o serial killer de "Silêncio dos Inocentes") evidencia a idéia do trauma da história para os americanos que, primeiro, demoraram a admitir e a tomar uma atitude em relação ao holocausto da II Guerra (a menininha pergunta porque ele chegou tarde) e, agora, mantém sua Shutter Island em Abu Ghraib onde realiza seus "Mind Games". E, fundamentalmente, a recusa em admitir o caráter violento de sua sociedade e trajetória histórica. Isso (a mensagem política diluída na história do filme) encaixa tão bem com as citações ao universo de Samuel Fuller (a entrada em Dachau, Guerra Fria, "Shock Corridor") que deve ter sido proposital, não?